Muita gente confunde o termo anafilaxia com choque anafilático, mas essas doenças não são exatamente a mesma coisa. Anafilaxia é uma doença grave, aguda, que pode ser fatal e que se caracteriza pelo aparecimento de alguns sintomas de pele e outros internamente no organismo.
Uma reação extremamente grave e até mesmo fatal pode ocorrer em alguns minutos após o desencadeamento !
Esses sintomas podem ser:
1. Urticária e angioedema: Urticária é uma lesão de pele vermelha, elevada, que coça muito. Quanto mais extensa e rápida for, mais grave. O angioedema é um inchaço localizado nas partes mais moles do corpo, como lábios, pálpebras, orelhas e genitais, mas às vezes pode ocorrer de forma intensa, em quase todo o corpo. O mais grave é quando esse edema (inchaço) acomete a glote que é a parte interna da garganta. Isso pode ocasionar sufocação.
2. Sintomas respiratórios: espirros, coceira em olhos e nariz, obstrução nasal, hiperemia (vermelhidão)ocular e lacrimejamento, tosse seca, falta de ar, chiado no peito, sensação de garganta apertada, alteração de voz, sensação de aperto no peito.
3. Sintomas gastrointestinais: náusea, vômito, cólicas, diarréia.
4. Sintomas cardiocirculatórios: queda de pressão arterial, taquicardia (batedeira), palidez.
5. Sintomas neurológicos: lipotímia (desfalecimento), perda da consciência, sensação de que está distante, desmaio, liberação de esfíncteres (perda de fezes e urina ).
Quanto mais sintomas, principalmente cardíacos e neurológicos, mais grave é a anafilaxia. O “choque” é uma condição clínica onde há falência da circulação, ou seja, o sangue não consegue chegar até os órgãos periféricos por causa da queda da pressão arterial e alterações da microcirculação. É uma situação gravíssima, com alta mortalidade.
Anafilaxia = Emergência
Existem várias causas de choque e a anafilaxia é uma delas. Portanto, o choque anafilático é uma forma de anafilaxia.
É muito importante se reconhecer prontamente os primeiros sintomas da anafilaxia, pois o tratamento rápido é fundamental para que a doença não evolua até o choque. Outra causa de morte pela anafilaxia é a sufocação, quer pelo edema de glote, quer pelo broncoespasmo (fechamento dos brônquios). Há ainda a possibilidade de a pessoa enfartar já que durante uma crise anafilática ocorre um espasmo das coronárias (diminuição do calibre interno das artérias que irrigam o coração) e se a pessoa já tiver uma alteração prévia, como placas de ateroma (aterosclerose) a anafilaxia poderá ser “a gota d´água” para o infarto agudo de miocárdio.
1. Alimentos: Apesar de qualquer alimento poder desencadear um quadro de anafilaxia, os principais alimentos envolvidos são: leite e ovo nas crianças e peixe, castanhas e crustáceos nos adultos. Esses alimentos podem estar presentes em receitas sem uma identificação explícita ou mesmo contaminando outro alimento durante sua preparação, quando utensílios como facas e colheres são usados para o preparo de duas receitas diferentes.
2. Medicamentos: Dentre os medicamentos, os antiinflamatórios e os antibióticos são os principais causadores de anafilaxia. Os primeiros são medicamentos usados para dor e inflamação e que na sua grande maioria podem ser comprados sem prescrição médica, o que facilita o acesso e o risco de reações adversas ocorrerem. Os principais representantes desse grupo são: dipirona, ácido acetil salicílico (AAS) e o diclofenaco. Apesar de qualquer antibiótico poder causar reação alérgica, o mais comum são os da classe das penicilinas, como amoxacilina e penicilina benzatina (Benzetacil®). Os anestésicos também podem causar reações alérgicas. Eles são classificados em locais, geralmente usados em procedimentos dentários e suturas na pele, ou sistêmicos, aqueles usados por via inalatória ou injetável nas cirurgias.
3. Insetos: Os insetos (abelhas, formigas e vespas) são responsáveis por muitos casos de anafilaxia através da inoculação do seu veneno no organismo da vítima.
4. Látex: O látex (borracha natural), usado em vários produtos hospitalares e de uso doméstico, é responsável por um grande numero de reações alérgicas. Há basicamente dois grandes grupos populacionais com grande risco de desenvolver alergia ao látex. São os profissionais da área de saúde, como médicos e enfermeiros, e os pacientes com espinha bífida. Os dois grupos são de risco por estarem em contato frequente com o látex, principalmente das luvas, que geralmente são feitas desse material.
Interessante citar que portadores de alergia ao látex podem também desenvolver alergia alimentar, principalmente por frutas e legumes.
5. Raras: Entre as causas raras de anafilaxia encontra-se:
anafilaxia associada ao sêmen (fluido seminal), onde a pessoa faz reação alérgica após o contato com o mesmo. - anafilaxia por aeroalérgenos, onde alimentos contaminados por ácaros desencadeiam a reação após a sua ingestão.
mastocitose, onde células de defesa do organismo (mastócitos) desencadeam a reação alérgica após estímulos variados.
anafilaxia desencadeada por exercício, onde a pessoa apresenta reação alérgica após atividade física quando associado a ingestão de algum alimento ou medicamento. Nesse caso, os principais alimentos envolvidos são: trigo,crustáceos, amendoim, milho, leite, pêssego, soja e alimentos contaminados por ácaros. Entre os medicamentos, os principais são os antiinflamatóriose os antibióticos.
anafilaxia ao frio, que pode ocorrer após banhos frios, principalmente em piscinas e cachoeiras.
6. Idiopática: Quando nenhuma causa é identificada após a investigação diagnóstica, dizemos que a anafilaxia é de causa idiopática (sem causa conhecida).
Infelizmente, as alergias são imprevisíveis. É comum os pacientes ficarem muito surpresos com sua primeira reação e perguntarem como pode ser isso se nunca tiveram isso anteriormente!
Existe a predisposição genética, que se chama atopia. Mas nem todos os indivíduos atópicos irão desenvolver uma alergia grave.
Quem está mais vulnerável a desenvolver uma crise anafilática grave é justamente quem já teve uma anteriormente. E se a reação alérgica grave vier associada com alguma dessas outras condições clínicas, então o risco é maior:
Por que a ASBAI está tão interessada em divulgar esse problema?
A resposta é: porque ele está crescendo!
Calcula-se que um em cada 200 atendimentos nos serviços de emergência sejam para tratamento de reações alérgicas graves. Através de estudos epidemiológicos estima-se que existam entre 50-2000 episódios de anafilaxia para cada 100.000 pessoas e, portanto, 2% aproximadamente da população já teve pelo menos um episódio de anafilaxia ao longo de sua vida. Além disso, pesquisas recentes indicam que o total de admissões hospitalares por reações alérgicas graves teve um incremento de sete vezes nos últimos 10 anos. E isso tem ocorrido principalmente pelo aumento de anafilaxia por alimentos. Já foram descritos mais de 120 tipos diferentes de alimentos capazes de provocar anafilaxia e a lista não para de crescer.
A Medicina desconhece as razões exatas para esse aumento de reações alérgicas graves, mas especula-se que mudanças no modo de viver e de se alimentar, alterações ambientais, etc, possam estar alterando a resposta imunológica normal.